Durante o périodo do meu primeiro mestrado na França, eu trabalhei no Galerie Lafayette. Assim como a maioria dos estudantes na França, a gente tem que se virar nos 30 pra dar conta dos estudos e pagar as contas ao mesmo tempo.
Entre paparicar maricotas, tirar fotos com os turistas chineses e vender roupas, umas das outras coisas que eu fazia era alimentar a curiosidade dos clientes respondendo o que uma brasileira veio fazer na França.
A melhor parte era analisar a expressão no rosto deles quando eu respondia que estava fazendo um mestrado em desenvolvimento sustentável. As reações eram quase sempre as mesmas, uns soltavam uns risinhos tímidos de quem não tem noção do que isso quer dizer e engatavam com um “ah é a nova tendência, né?”, e outros faziam umas caretas do tipo “ah, mas pra quê ? Esse mundo não tem mais jeito mesmo”.
Se o trabalho que eu fazia no Galerie Lafayette não me agradava tanto quanto eu gostaria, ele teve o seu lado positivo. Em primeiro, considero as pessoas maravilhosas que conheci naquele lugar, e em segundo vem o que eu aprendi com essa enquete involuntária sobre a opinião das pessoas em relação à sustentabilidade.
Confesso que no início eu ficava enfurecida com a idéia que algumas pessoas tinham do assunto e das pessoas que trabalham nesta área, mas isso também me levou à repensar sobre o conceito e o que ele representava para mim, acima de tudo.
Aos pouquinhos fui chegando à conclusão que não dá pra existir sustentabilidade se não temos consciência de quem realmente somos, assim como o peso de nossas ações. Por muito tempo a gente insistiu em acreditar que os nossos representantes políticos e as “grandes personalidades” sãos os verdadeiros responsavéis em promover a mudança que nós queremos ver e viver.
Mas pensar assim, além de ser muito comôdo, é uma forma de reduzir a nossa existência a muito pouco.
Para algumas pessoas a palavra sustentabilidade traz a idéia de “ecochato” e para outras, representa algo mais inovador, mas sinto-lhes informar que desenvolvimento sustentável não veio pra reinventar a roda, na verdade ele sempre existiu. Mas dessa vez, ele apenas reapareceu com um novo nome, mais atraente e mais comercial.
A sabedoria dos nossos ancestrais se apoiava na idéia de harmonia, onde a gente só colhe o que planta e só recebe amor quando dá, entendedores entenderão !
De uns tempos pra cá, a palavra sustentabilidade tem mais me incomodado do que ajudado. Sustentabilidade virou desculpa pra continuar a consumir de maneira desenfreada, mas agora de forma “consciente”, porque optamos por “melhores marcas” e “melhores produtos”, mas será que é sustentável consumir tanto assim? Será que a gente realmente precisa de tanto? E séra que consumir igual ou mais com a desculpa de ser melhor ajuda? Acho que a conta não fecha.
Talvez seja por isso que a palavra harmonia faz mais sentido para mim, pois ela nos traz de volta a consciência sobre o nosso verdadeiro lugar nesse planeta como simples seres humanos de passagem. Ela também nos faz entender que manter uma relação de respeito com as pessoas e com o meio no qual vivemos não deve ser um esforço e sim uma obrigação.
Imaginar esse cenário foi essencial para repensar as minhas ações, apesar delas estarem longe de ser o ideal.
Mesmo trabalhando há alguns anos nessa aréa e realizando dois mestrados ligados à sustentabilidade, ainda cometo alguns deslizes, como quando tenho preguiça de separar o lixo orgânico do réciclável, por exemplo, mas mesmo assim continuo tentando.
É díficil se desfazer de hábitos antigos, ainda mais quando eles parecem serem mais práticos e confortáveis, mas acho que de pouquinho em pouquinho é possível de substituí-los por novos, principalmente quando eles não tem nada de mirabolante e só trazem benefícios.
Acredito que o mais importante nesse processo foi aprender que eu sou a principal responsável sobre as minhas ações, em nada ajuda culpar o presidente ou o vizinho, porque a batata é quente pra todo mundo! E cada um tem o seu tempo de compreensão, assim como eu tive o meu.
Mas o caminho é simples, o desenvolvimento harmonioso começa comigo, começa com o meu vizinho, com os meus amigos... ele começa com cada um de nós !
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