27 de junho, essa é a data oficial do início das liquidações de verão na França. O período é de seis semanas e os descontos podem chegar até 70%, além disso praticamente todas as lojas participam.
Eu diria que este é o melhor lugar e período para uma shopaholic (viciada em compras) estar, na França o templo da moda e do consumo.
Se fosse há alguns anos átras eu seria essa moça descontrolada que mencionei aqui acima, mas hoje a história é outra.
E ela começou quando eu me mudei pra França, mais exatamente quando eu tive que fazer a minha vida caber em duas malas pequenograndemomentodedesespero...
Eram livros, fotos, acessórios, produtos de higiene, sapatos e roupas, muitas roupas !
E foi nesse momento que pela primeira vez eu fiquei impressionada em como eu pude acumular tanta roupa, sapato e acessórios em tão pouco tempo!
Para entender como eu cheguei à este nível de choque, preciso antes dizer que eu me mudei de Brasília para São Paulo com apenas uma mala, pois a princípio Brasília continuava sendo a minha “segunda casa” então uma parte do meu guarda-roupa acabou ficando por lá. Mas quando eu decidi juntar a tralha que ficou em Brasília mais o que fui acumulando no período de dois anos morando em sampa, foi preciso 4 malas para poder dar conta de uma parte da mudança.
Ainda analisando o meu guarda-roupa daquela época, cheguei à conclusão que uma parte das peças eu devo ter usado uma ou duas vezes durante dois anos, isso no máximo, sem contar as que nunca utilizei porque não tinha “ocasião” para tal.
Bom, usando ou não usando eu precisava dar um jeito de ir embora levando apenas duas malas, então a solução foi unir o útil ao agradável e assim eu criei um brechó online. Com ele eu vendi algumas peças, doei umas outras tantas, mas mesmo assim não consegui me desfazer de tudo.
Chegando finalmente na França, pensei comigo que o suplício de fazer mala tinha ficado para trás, até porque se tem uma pessoa que tem alergia à fazer mala este serzinho sou eu ; o processo tem que começar ao menos duas semanas antes só para eu poder me preparar psicologicamente, tamanho o nível do meu desespero! #pessoacomplicada #porqueamalanaosefazsozinha
Então após a a minha chegada na França eu já me mudei 6 vezes, e isso em 5 anos! Agora imagine quantas vezes eu tive que fazer e desfazer malas e malas ?! Conseguiu acompanhar o desespero?
Essa é uma das razões pelas qual eu resolvi adotar um estilo de vida e de guarda-roupa mais minimalista. Hoje eu penso duas vezes antes de comprar algo e isso se tornou um comportamento praticamente involuntário porque eu já sei qual vai ser o resultado se eu decidir fazer de outro jeito.
Mas em uma sociedade baseada no consumo, me diz como não acumular? Nós fomos treinados para consumir porque existe uma crença onipresente que insiste em nos fazer acreditar que nunca temos o suficiente.
Então, você que está aí toda contente de ter adquirido um batom nude que correponde à aquilo que você precisava: cor, quantidade, qualidade e tudo que se tem direito - não vai mais estar feliz e satisfeita amanhã porque existe todo um sistema te estudando para te convencer que essa cor é linda, mas você também vai ficar maravilhosa com o nude 2.0 e o 3.5 !
É, eu sei que a gente sabe disso tudo e mesmo assim é difícil de resistir, mas não se preocupe... #tamojunto
É tentação para todo lado, coleção Zara à cada duas semanas, propagandas na tv, promoções “bombardeando” o seu email, tem também a sua amiga que acabou de descobrir uma loja que tem a sua cara, além de todas as blogueiras que te mostram as novas aquisições e porque é vital tê-las na sua vida!
Mas deixa eu te contar uma coisa, consumir não é um problema. Inclusive na nossa sociedade moderna isso é uma necessidade, nós precisamos nos alimentar, nos vestir, nos locomover, nada de mais normal, não é? Mas então como encontrar o meio termo?
Umas das formas que me ajudam sempre à repensar o meu consumo é imaginar o que eu realmente gostaria de ter comigo se a minha vida tivesse que caber em duas malas, leia-se duas malas de 32kg e não um baú. :)
Em seguida, eu levo em consideração alguns outros pontos que listo aqui abaixo:
1. Conhecer as suas peças coringas
A melhor coisa pra não comprar sem necessidade é conhecer bem o que se tem disponível no guarda-roupa e como podemos variar as combinações. Digo isso porque o que mais acontecia comigo era comprar algo dizendo que eu ia poder usar com tal peça depois, mas a verdade é que quando eu finalmente resolvia usar eu percebia que pouquíssimas eram as combinações que me agradavam, resultado: eu usava uma vez ou nunca, ou pior, usava a falta de possibilidade como desculpa para poder comprar algo que fosse finalmente combinar! Ou seja, a coisa vai virando uma bola de neve.
2. Focar na qualidade
Como mencionei neste post tenho dado mais valor à qualidade do que à quantidade. É claro que para quem tem uma conta bancária bem prospéra isso não é um problema, mas acredito que a maturidade também conta muito nesse processo e depois de um certo tempo é natural começarmos a fazer um esforço maior para obter produtos de melhor qualidade. A gente passa à dar prioridade para aqueles produtos que são atemporais e que duram quase uma vida. Tipo aquela bolsa que você herda da sua mãe e que tem apenas a sua idade! #orgulhovintage #bolsamaisemformadoqueeu
3. Não comprar com a desculpa de que é para “quebrar um galho”
Ano passado durante 6 meses eu só tive duas calças jeans, sim eu disse duas! A razão é simples, umas ficaram velhinhas e enquanto isso eu não conseguia encontrar algo me agradasse seja no formato, na qualidade ou no meu orçamento.
Eu até poderia ter comprado outra, mas eu sei que se eu comprar algo que não me agrada totalmente eu vou acabar deixando de lado na primeira oportunidade que eu tiver. Além disso, eu pude exercer a minha criatividade utilizando outras combinações com as peças que eu tinha disponíveis, e no momento em que eu achei O jeans que eu queria eu pude dizer o que é realmente A sensação de satisfação.
4. Provar roupas e levar um tempo para refletir
Uma das melhores táticas para mim é experimentar e depois reservar um tempo para refletir se eu realmente preciso e/ou se vale a pena a compra. Se depois de uma semana ou duas a peça de roupa ou o acessório ainda estiver martelando na cabeça esse é o momento que eu digo que vale a pena investir. A grande vantagem das lojas na Europa é que podemos devolver uma compra se finalmente mudarmos de ideia, então isso também facilita a vida! Para algumas pessoas talvez seja mais difícil colocar isso em prática, considerando a tentação de guardar o que se comprou é muito maior, mas para se ter uma idéia 2/3 das peças que comprei nos últimos 6 meses eu acabei devolvendo!
5. Fazer uma lista do que você realmente precisa
Essa dica eu aprendi com a minha mãe, a rainha da organização, e foi super útil logo no início da minha independência financeira, quando a gente quer sair comprando tudo que vê pela frente. Eu sempre mantenho uma lista das minhas prioridades e isso me ajuda a manter o foco e até mesmo me organizar financeiramente.
6. Dar preferência à tecidos naturais
Trabalhar como vendedora de loja de roupas estava longe dos meus melhores planos quando eu me mudei para Paris, mas como já se diz “tá no inferno abraça o capeta”!
Aprender sobre diferentes texturas, os modos de conservação e a necessidade de dar preferência à tecidos naturais foi super importante para que eu pudesse ter uma outra consciência sobre moda e consumo!
Não que isso fosse novidade, mas me ajudou a perceber no dia a dia que a qualidade e o tipo de tecido que optamos fazem uma tremenda diferença no tempo de vida do produto, sem contar toda a questão ambiental que já dá assunto para um outro textão.
7. Trocar peças com amiga.o.s
Isso era uma das coisas que eu mais fazia no Brasil, principalmente durante o período em que morei em um pensionato de freiras. Nós éramos quase que 10 amigas com livre passagem no guarda-roupa umas das outras! Hoje, infelizmente, eu faço com menor frequência, mas é algo que eu acho super válido e que além de contar com todo o aspecto da durabilidade e da utilidade desses produtos, também te dá inúmeras opções de estilo.
Aqui, eu utilizei como exemplo o consumo de roupas, mas na verdade essas táticas eu aplico à tudo que eu consumo de uma maneira geral, seja com produtos naturais, coisas para casa, entre outros.
E estes são alguns dos “métodos” que me ajudaram a trabalhar o auto controle, porque depois de um tempo a gente passa a perceber a diferença entre a necessidade de se obter algumas coisas porque elas serão realmente úteis, contra a simples sensação de vontade que é algo mais momentâneo e que nem sempre é pensado de forma racional. Por que conhevamos, no fundo a gente sabe muito bem quando é capricho ou não!
Além disso, todas essas dicas são relacionadas à noção de redução do nosso consumo porque eu acredito que antes de repensar em “consumir local” ou dar preferência à marcas mais engajadas tanto social como ambientalmente, a ética tem que vir de dentro pra fora. Ou seja, se eu continuar consumido desenfreadamente, mas com a desculpa de que agora só utilizo matérias orgânicas, ou só compro de empresas que não exploram animais, etc, etc., a mudança é quase que inexistente!
Por isso a primeira dica é práticar o desapego.
E se ainda assim você estiver na dúvida, lembre-se que às vezes menos e melhor, é mais! ;)
Bisou bisou
Amy
Comments